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AGRICULTURA - FATOS E MITOS - Onévio Zabot
Dia desses meu amigo Franklin estava indignado. Não entendia por que tantos questionamentos sobre o agro. Afinal, o pessoal do campo nunca trabalhou tanto para pôr e dispor comida na mesa-mundo. Tempos de WhatsApp, de aplicativos; muita fumaça, pouco fogo, amigo Franklin. Eis que, finalmente, Xico Graziano, Décio Luiz Gazzoni e Maria Thereza Pedroso, engenheiros agrônomos, reagem. Ou por outra: agem. Botam a boca no trombone. Pêndulo ao equilíbrio, o compromisso. Cientistas, fogem a ideologias falaciosas. O título do livro que acabam de publicar não poderia ser mais sugestivo: Agricultura - Fatos e Mitos - fundamentos para um debate racional sobre o agro brasileiro, editora Baraúna, 2020.
Profissionais de conduta ilibada, põe o dedo na ferida. Contrapõem-se à corrente fatalista que insiste em denegrir a imagem do agro; estando mais para tosquia de porco: nada de lã, só gritaria. Para os fatalistas, o mundo vai acabar na próxima década. Ou antes disso. Desmatamento, agricultura convencional, agrotóxicos, transgênicos, o novo apocalipse. Nada escapa à fúria canina que move bandeiras ambientalistas. Mundos e fundos são mobilizados por essas bandeiras. Algumas pertinentes, outras a serviço de interesses escusos.
Poucos, no entanto, se dão por conta de que urge prover alimentos para cerca nove bilhões de pessoas mundo afora. Tremenda responsabilidade. Aliás, Malthus já alertará sobre isso: o risco de explosão populacional. Haja alimentos! Mas, graças às ciências agrárias, alimentos em abundância nunca faltaram. Quanto à sua distribuição, poder aquisitivo, essa é outra história.Antes disso, Bjorn Lomborg na obra: O Ambientalista Cético - Revelando a Real Situação do Mundo, Elsevier Editora LTDA, 1998, já alertará sobre o ambientalismo bissexto. Expansão de alarmismos inconsequentes. E, o mais grave: citar fontes nem sempre confiáveis. Bjorn, como estatístico, após consulta-las, desmascara várias delas. A obra volumosa, mais de quinhentas páginas, entra em pormenores desse imbróglio. Esmiúça detalhes. É assustador como certas informações baseadas em fontes falaciosas adquirem contornos de veracidade. Passam a ser paradigmas universais, citados em cadeia, inclusive por órgãos de imprensa.
Neste aspecto, a obra Agricultura, Fatos e Mitos, pela primeira vez, e de forma metódica, a partir de aferição científica adentra neste terreno controversos do agro brasileiro. Ousa por o pingo nos "is".
Não há dúvida, o agro brasileiro é um case de sucesso. Graças à ciência e a tecnologia, o país transformou-se num dos maiores celeiros do mundo. Práticas ultrapassadas de regiões temperadas por aqui adotadas de forma equivocada foram abolidas. Lavrar a terra, por exemplo. Optou-se pelo plantio direito, plantio na palhada. De outro lado, Código Florestal assegura a proteção da vegetação ciliar. E, (pasmem!) em apenas 8% do território nacional produzimos proteínas para mais de 150 países. E, a agricultura de precisão impõem-se, reduzindo significamente os riscos quanto ao uso de fertilizantes e pesticidas, até porque o biocontrole avança a olhos vistos. Nenhum agricultor quer expor-se aos agroquímicos. Havendo alternativas, as adotam imediatamente. Não negam os autores que temos problemas localizados, mas que, em absoluto, à luz do conhecimento científico, não podem ser, no devido tempo, equacionados. Por fim, de forma taxativa, ponderam: "A pior praga é a desinformação". Desinformação essa bastante presente no nosso dia a dia. Eis uma obra de leitura obrigatória para técnicos, e especialmente para aqueles que difundem informações alarmistas, esquivando-se da realidade. Lição da história: "A sustentabilidade futura se constrói no presente". E o Brasil, para surpresa geral, vem construindo um novo agro; exemplo de sucesso haja vista a expansão da produção. Ajustes localizados, obviamente fazem-se necessários. Nada, portanto, justifica o alarmismo inconsequente que as vezes se propaga aos quatro ventos pela mídia, reforçando interesses escusos, especialmente da União Europeia - pródiga em subsídios -, e temerosa em face da ousadia deste gigante dos trópicos chamado Brasil.
Joinville, setembro de 2020
Onévio Zabot
Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras
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